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ENTENDA AQUI QUAIS SÃO AS DIFICULDADES DO BRASIL PARA SEDIAR A COPA DE 2014.

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2011-02-13 19:41

Dificuldades do Brasil para sediar a próxima Copa

Consultor do Sinaenco expõe as dificuldades do Brasil para sediar a próxima Copa do Mundo de futebol

 

Jorge Hori, em entrevista exclusiva, fala sobre os estádios brasileiros, sobre a exclusão do Morumbi para a abertura da Copa e os problemas e possíveis soluções para a infraestrutura e mobilidade urbana

 

Luciana Tamaki

 

A Fifa (Federação Internacional de Futebol) afirmou na quarta-feira, 16 de junho, que o estádio do Morumbi está fora da Copa do Mundo de 2014. Dessa forma, a cidade de São Paulo fica sem palco para receber as partidas de futebol e a abertura do mundial. Na opinião de Jorge Hori, consultor do Sinaenco (Sindicato Nacional da Arquitetura e Engenharia Consultiva), a exclusão do estádio é uma questão muito mais de caráter político do que técnico.

O consultor acredita que sem o Morumbi, o Mineirão seria uma das melhores opções para a abertura dos jogos, mas Belo Horizonte tem que adequar sua hotelaria. Se as obras de Brasília ficarem prontas, a abertura será lá. Se nada disso acontecer, sobra para o Maracanã ou mesmo o estádio paulista pode voltar a ser cogitado.

Em entrevista, Hori também fala como o jogo político e falta de planejamento podem dificultar a realização da Copa do Mundo de 2014 e quais são os principais gargalos do Brasil do ponto de vista da mobilidade e urbanismo. Confira:

Agora é oficial, o Morumbi foi excluído da Copa do Mundo de 2014. Há chances da cidade São Paulo ainda ter algum estádio nos jogos ou não?

A meu ver não, para receber a abertura não. Caso a cidade de São Paulo aceite não receber a abertura da Copa, além do Morumbi, também poderia ser utilizada a Arena Palestra Itália, que tem condições de receber semifinais e, dependendo do caso, até mesmo as quartas-de-finais. Mas a exclusão do Morumbi é muito mais um problema de caráter político do que técnico…

Por que político?

Não compensa para o São Paulo, como clube privado, fazer um investimento de R$ 600 milhões, sendo R$ 300 milhões sem retorno. A ideia era o poder público assumir, mas ele não pode porque é uma área privada. Fazer isso em área privada implica todo um processo burocrático e político. Precisa ter Compound TV [área para os caminhões de transmissão de TV], área para as villages, que são investimento sem retorno, e seria preciso derrubar as piscinas, quadras de tênis. O clube tentou alocar o Compound TV no campo de treinamento e a Fifa não aceitou. O jogo é o seguinte: se a abertura não for no Morumbi, vai ser aonde? Na verdade, o processo foi caminhado para a abertura ser em Brasília. Mas aí houve o problema com o Arruda (José Roberto Arruda, ex-governador do Distrito Federal, envolvido em escândalo de corrupção), e agora o pessoal está correndo. Talvez ainda seja lá, é muito difícil. Eu acho que não vai dar tempo. Do ponto de vista do estádio, a melhor solução seria o Mineirão. Com a reforma ele vai ficar muito bom, com áreas externas enormes, mas não há hotel cinco estrelas. Em dois anos poderiam ser feitos os hotéis, há projetos prontos. Mas se depois eles não tiverem público, os empreendedores não vão fazer. Eles estão esperando um plano estratégico de Minas Gerais para desenvolver o turismo de negócios. Mas o governo mineiro tem outras prioridades, não entendeu que isso é necessário.

Então onde pode ser a abertura dos jogos?

 

Se não for em São Paulo, vai ser no Maracanã. Talvez ainda seja em São Paulo. Mais à frente, São Paulo vai voltar a ser abertura porque não tem opção. Essa é a minha previsão. Essa volta ao projeto de R$ 380 milhões era previsível, porque tem retorno, uma parte é financiada pelo BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Social] e outra por patrocínio, vende-se camarotes etc. A Fifa não vai dizer onde vai ser a abertura agora. Só vai dizer “Se o Morumbi decidiu sair, tudo bem”. Mais à frente, se finalizar [o estádio em] Brasília, vai ser Brasília. Se resolver o problema de hotelaria em Belo Horizonte, vai ser lá. Se não, vai ser no Maracanã, ou, se por uma série de condições não puder, vai ser em São Paulo.

 

O Brasil já está marcado pelos atrasos em relação ao início das obras dos estádios para a Copa. Há as etapas de licitação, captação de recursos e obras. Qual vem sendo o maior entrave? Estes atrasos ocorreram exclusivamente por ser o Brasil, ou as exigências da Fifa também teriam o mesmo resultado em outros países?

A primeira questão é cultural. As coisas estão atrasadas porque nós não temos uma cultura e seriedade de planejamento. Planejamento não é somente elaborar planos, mas decidir por antecipação. É preciso decidir antes, planejar, projetar e preparar para poder executar. Quando se trata de algo com data marcada e que não pode ser adiado, é necessário um planejamento de trás para frente, do fim para o começo, saber quanto tempo leva cada etapa para saber quando tem que começar. Esta é a lógica da Fifa. Quando ela impõe um prazo inicial, ela calcula um cronograma razoável, e, à medida que ele se defasa, fica mais apertado.

Então estamos atrasados…

Todas as decisões já deveriam ter sido tomadas em 2008, e nós estamos dois anos e meio depois disso. A decisão da escolha do Brasil foi no final de 2007, e além disso ele era o único candidato. O planejamento poderia ter começado no final de 2007. Quando foi feito o Enaenco [Encontro Nacional de Arquitetura e Engenharia Consultivas], em novembro de 2007, dissemos que o planejamento deveria começar naquela data. 2008 era para planejar, 2009 desenvolver os projetos, e 2010 obras já em andamento. Esse seria um calendário com folga para estar tudo pronto em 2013, para a Copa das Confederações. As obras já deveriam ter começado no segundo semestre de 2009.

E por que está atrasado?

Governo e CBF (Confederação Brasileira de Futebol) afirmam que não estamos atrasados, uma vez que não há calendário. Mas o fato é que para os prazos usuais está. Os projetistas e consultores têm uma ideia de quanto tempo se leva. Uma alegação para não se ter tomado as decisões em 2008 era de que as cidades não tinham sido escolhidas, mas algumas eram óbvias. A grande razão é que há um jogo para saber quem põe o dinheiro: se é o estado, a União ou se é privado. Neste caso, o presidente Lula afirmou que a União não vai colocar dinheiro nos estádios. As pessoas pensam que depois se daria um jeito, mas não deu e não vai dar. A expectativa é que dê daqui a dois anos, quando chegar no momento da “vergonha nacional”. Isso não é um jogo sério. A primeira razão, então, é a expectativa de que a decisão do Governo Federal não valesse. A iniciativa será ou privada ou dos estados. A outra razão dos atrasos é a ilusão de que se teria investimento privado, alimentado pelos interesses dos grupos que vieram ao Brasil e mostraram interesse. Mas, na realidade, o interesse é de negócios, se não houver viabilidade não vai ser feito, como com uma PPP ou contribuição do governo.

 

Maracanã pode ser o substituto do Morumbi para a abertura da Copa

E há estádios que podem receber esses recursos?

Essa expectativa de recursos privados é a outra razão do adiamento, que também é uma questão cultural. O Mineirão é viável, o Maracanã depende de quanto será investido, e os estádios privados eventualmente também dependem desses recursos. A conta é muito simples, e começa em quanto se vai investir por assento. Com 60 mil assentos, pela experiência internacional, o estádio deve ter 70 jogos por ano, com ocupação média de pelo menos 60% e ingresso com preço médio na ordem de R$ 50. Só há três estádios que têm mais de 70 jogos por ano: o Mineirão, o Maracanã e o Serra Dourada, porque são estádios públicos onde os clubes principais não têm estádio próprio. No calendário de futebol do Brasil, há os campeonatos estaduais, Copa do Brasil e Brasileirão. Joga-se no estádio do mandante, e com 20 clubes (no Brasileirão) há 19 jogos do mandante. Que sejam mais 19 jogos do estadual e Copa do Brasil, são 38 jogos, praticamente metade do necessário. Se, então, há dois times, como em Minas Gerais são o Atlético e o Cruzeiro, são 76 jogos.

E quanto às exigências da Fifa?

 A Fifa não quer pista de atletismo, por exemplo. Houve uma resistência dos projetistas a aceitar isso. Em 2007, 2008, foram apresentados os primeiros projetos, e o único que atendia à Fifa era o Atlético Paraense, que projetou as villages. Nenhum outro projetou. Elas foram colocadas dentro do estádio, ou seja, não entenderam integralmente a concepção de village. O atendimento às exigências da Fifa foi uma briga com os projetistas, e, no meio do caminho, grande parte dos estádios contrataram empresas estrangeiras acostumadas a trabalhar com a Fifa. As exigências são a razão de atraso na medida em que houve esse confronto, na tentativa de dar um jeitinho, testando o quão rigorosa é a Fifa. Ela é extremamente rigorosa na fase inicial, depois flexibiliza, como fez na África. Esse jogo estratégico talvez foi levado ao limite. 

As obras de infraestrutura no Brasil também tendem a atrasar, vide a Linha Amarela do metrô de São Paulo, inicialmente prevista para 2007 e agora com previsão de conclusão da linha inteira somente para 2012/13. Já precisamos nos preocupar em relação às obras para 2014?

São poucas as obras de infraestrutura diretamente vinculadas à Copa, como as obras de acessibilidade aos estádios, hotelaria e aeroportos. A questão principal é a acessibilidade, e não a mobilidade, porque, para efeito dos jogos da Copa, são feitas operações especiais. Isso acontece na África do Sul. Tem crise, mas no dia dos jogos não há problema, são feitos acordos com gangues etc. São poucos os casos em que há problema de acessibilidade. No caso de Recife, o estádio será num lugar novo. Nos outros, há necessidade de transporte coletivo, como é o caso de Cuiabá. A acessibilidade é a melhoria do sistema, e é como na África do Sul: se der para fazer, tudo bem, se não, vai ficar como está. Quando a comissão da Fifa veio ao Brasil, ficaram apavorados com o trânsito. Não teve operação especial, com batedores.

Principais aeroportos do país já operam com capacidade máxima. Demanda vai aumentar durante os jogos

  Há algum gargalo na infraestrutura?

 

 Aeroportos. Pelo tamanho do Brasil, a grande movimentação dos turistas externos para ver os jogos é aérea. São oito grupos com quatro times, e seis jogos que não são no mesmo lugar. Os times precisam viajar, e os turistas de seus países vão acompanhá-los. Então, durante a Copa, há uma grande movimentação interna, que acaba entrando no horário de pico – ou na partida ou na chegada dos destinos. Para resolver o problema de mobilidade urbana, a solução é simples: antecipar as férias escolares. Aí, resolve-se o problema da mobilidade urbana, mas com férias escolares as pessoas vão viajar. É mais gente circulando pelo país, e vai aumentar a demanda de movimentação aérea. Daquilo que é essencial para a Copa, ou seja, acessibilidade urbana e regional, a urbana não é o maior problema, e sim a regional e internacional. A maior parte dos aeroportos já está com supercapacidade, e as soluções estão atrasadas.

 

 Mas elas vão acontecer?

 

 Vão acontecer, mas estão atrasadas e a razão é muito simples. A solução, em grande parte, é a privatização. O governo já percebeu isso, mas não quer fazer porque é ano eleitoral, e o governo se manifestou contra a privatização, a Dilma é ou pelo menos eleitoralmente é contra, e é inaceitável que o governo promova isso. Tem um caso que já poderia estar definido e está atrasado, que é São Gonçalo do Amarante (Grande Natal-RN), o processo de concessão acabou de começar [foi assinado decreto de concessão pelo presidente Lula em 9 de junho].

 

 Um grande legado dos Mundiais da Fifa é o incremento do turismo. O que precisa ser melhorado no Brasil, além dos projetos de infraestrutura previstos, que pode ajudar nesse setor?

 

 Há dois tipos de legado: um é pela mobilização, o que a sociedade brasileira e a mídia se mobilizam em função da Copa, é a grande oportunidade para o país dar um salto, para que este país, em 2014, seja outro país, um país moderno. Investimentos em saneamento, ou mesmo em infraestrutura, combate à poluição e aos grandes problemas, este seria o grande legado da Copa. Esse conceito não está colocado, não está acontecendo. A Espanha fez com Barcelona nos Jogos Olímpicos. O outro legado é o afluxo turístico, mas isso é menor. O maior legado é passar para um novo estágio de país, em função dessa movimentação social. O que seria o grande ganho do Brasil, do ponto de vista da imagem, é que não somos o país do carnaval, mas um grande país industrial. Esse processo é lento, mas já poderia estar sendo planejado.

 

 Como garantir que não só as capitais-sede da Copa se beneficiem da visibilidade do país na Copa e possam ter seu turismo incrementado?

 

 Há dois tipos de turismo: de lazer e de negócios. O de lazer tem o melhor marketing e o mais barato. A gente acha que sim, mas o mundo não conhece o Brasil. Muitos turistas passarão a se interessar e vão conhecer. A Embratur está cuidando desta preparação. Mas cidades como São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte e parcialmente Porto Alegre, não são pólos de turismo de lazer, mas de negócios. Não há nenhuma estratégia definida pela Embratur [Empresa Brasileira de Turismo]. E esse é o grande problema de Belo Horizonte: a cidade não tem turismo de negócios e não tem hotelaria cinco estrelas. Se tivesse, seria ela a sediar a abertura facilmente. No caso de Curitiba, o turista estará atraído para Foz do Iguaçu. O turista que vem para a 1ª fase, em 10 dias tem três jogos. Temos que organizar pacotes de turismo com programas para 240 horas. Discuti isso com o pessoal de Cuiabá e Campo Grande. Era bobagem Campo Grande gastar R$ 500 milhões para fazer estádio, porque os turistas vão se atrair para o Pantanal e outros lugares. É preciso um planejamento logístico para aproveitar e mostrar outros atrativos além das cidades-sede. A visibilidade é regional; não é Manaus, é Amazônia.

 

 São necessários investimentos públicos? Em sua opinião, eles vêm sendo bem direcionados?

 

 Alguns investimentos públicos são necessários, para melhorar acessibilidade aos pontos. Em minha opinião, não estão sendo bem direcionados. Não tem uma estratégia do Brasil como potência turística. Tem uma iniciativa do Ministério do Turismo, da Embratur, mas não do Governo Federal, que tinha que assumir pela Casa Civil, coordenando um planejamento nacional que considere todos esses segmentos.

 

 Cidades menores que receberão jogos da Copa, como, por exemplo, Manaus, teriam mais facilidade e possibilidade de serem remodeladas para receber os jogos. Cidades maiores, como o Rio de Janeiro, precisariam de muito mais investimento para que se sinta os benefícios de infraestrutura. O senhor concorda?

 

 Nos casos de Manaus e Cuiabá, por exemplo, uma grande obra resolve os problemas críticos. Em Manaus, vai ser feito um monotrilho como solução de mobilidade urbana, embora eu não ache a solução mais adequada. O estádio de Manaus fica em uma área muito densa, o problema é de mobilidade. Em Cuiabá, o gargalo é Várzea Grande, o município onde fica o aeroporto. Para chegar ao centro de Cuiabá, há ruas pequenas. Com um BRT [Bus Rapid Transportation], não se resolve somente o problema de mobilidade do estádio, mas também no eixo estrutural. No caso do Rio de Janeiro e São Paulo, não há alternativa a não ser transporte coletivo. Em alguns casos metrô ou VLT [Veículo Leve sobre Trilhos]. A única discussão maior que eu vejo é sobre o metrô de Belo Horizonte. Não é a melhor opção, mas sim fazer um BRT, que vai ser feito. Recife tem uma situação esquisita. Será criada uma área nova, com projeto de urbanização, além da malha urbana. É preciso ampliar a infraestrutura, para chegar até lá.

 

Estádio em Brasília, na opinião de Hori, fatalmente será um “elefante branco”. Custo deve ficar por conta do poder público.

  Como evitar que os novos estádios se tornem “elefantes brancos”?

 

 Não é possível. Vamos ter uma manada de elefantes brancos. Alguns casos se justificam com o turismo, nos outros, vai ser um custo assumido pelo poder público.

 Os estados vão ser onerados, é isso?

 Também há a ilusão de que, fazendo uma arena multiuso, pode se viabilizar ao longo do tempo. Mas o mercado de shows para uma arena acima de 40 mil pessoas é pequeno. Shows de massa são de 25, 40, 60 mil ou mais. Estes últimos são raros, como da Madonna. Em algumas cidades, para um show de 40 mil faz-se uma instalação em campo aberto que é mais barato que pagar aluguel do estádio. As três únicas cidades que têm capacidade para shows desse tamanho são São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, nesta ordem. E os de Brasília são mais caros. As outras cidades não têm público.

 As capitais do Brasil, mesmo as mais desenvolvidas (ou principalmente elas), lidam com questões como lixo nas ruas, trânsito etc. Além da óbvia má impressão sobre a cidade, essas dificuldades podem vir a diminuir o turismo durante a Copa?

 No entorno dos estádios e dos hotéis não vai haver lixo e sujeira. É uma solução de “higienização”, isso é inevitável. Não é que não possa haver soluções estruturais, mas se não resolver, é uma política higienização. São feitos acordos de rua, com gangues, e quem não cumprir está morto. Você não sabe que as coisas são feitas assim? Não pode perturbar os turistas na hora de uma festa nacional.

 Sobre a sinalização nas ruas, você já criticou que a nomenclatura nas ruas não é coerente com os guias. Isto é um problema de todas as capitais?

 Não é generalizado, mas há um problema de sinalização e de educação, como a polícia, que deve orientar. E tem a questão do estudo de idiomas, para haver um mínimo de comunicação. As perguntas dos turistas são simples, é inglês de orientação. As escolas de inglês estão se orientando para oferecer esses cursos instrumentais.

 Nas grandes cidades, a segurança é um ponto crítico. O que deve ser feito para melhorar essa questão? Há possibilidade de ações permanentes, ou seja, que continuem depois de 2014, para o benefício da população das cidades?

 Durante a Copa, serão operações especiais, em todos os sentidos: segurança, trânsito, limpeza etc. Medidas estruturais dependem muito das cidades. O grande problema de segurança é a corrupção. Como se resolve isso?

 Para Brasília, o que falta é somente a construção do estádio?

 Sim, e este sim seria um elefante branco, mesmo Brasília sendo o único estádio que tenha viabilidade como arena multiuso. Ele está sendo projetado para ser uma arena multiuso para shows, onde eventualmente se jogará futebol. E tem que ser realizado pelo menos dois megashows por mês.

 O monotrilho previsto até o estádio ainda se justifica? Ele terá demanda suficiente depois da Copa?

 O monotrilho não está vinculado à Copa, é uma solução para ligar a estação do metrô da Vila Sônia à linha Norte-Sul para chegar em São João. Para fazer essa integração, haverá uma passagem pelo aeroporto e pelo estádio, que hoje está no “nó”. Do ponto de vista de planejamento de transporte, precisaria ser melhor estruturado, e não pensado só para a Copa. Evidentemente que a Copa é uma oportunidade, mas só o estádio não justifica.

 As obras para a Copa de 2014, assim como obras para as Olimpíadas, vêm gerando um “boom” de demanda de mão de obra. O setor de construção civil, por outro lado, vem num processo de industrialização de suas obras, justamente pela falta de mão de obra restante a esse setor. Após esse período de jogos (Copa e Olimpíadas), qual deve ser o cenário de mão de obra no Brasil?

 Favelão. Esse é o grande problema, e que o pessoal da construção civil esconde. As obras são grandes empregadoras, mas elas têm começo, meio e fim, e no final elas são grandes desempregadoras. Se não houver uma continuidade de obras, se este fim não vira começo, o que acontece? Apesar de o Brasil ser essencialmente urbano, ainda há muita migração, não só rural-urbana como urbana-urbana. Quando há grandes obras, há migração para esses locais, e esses migrantes não voltam mais. Aqui no Brasil não é como na China, onde há passaporte interno. Os operários que trabalharam nas obras das Olimpíadas de Pequim foram obrigados a voltar para o campo. Aqui, eles não vão embora. Enquanto esperam que a vida seja melhor do que onde estavam, ficam na expectativa de um novo emprego. Enquanto não conseguem, ficam na favela e vão viver de bico. A “cidade informal” é decorrência das grandes obras. A favela de Duque de Caxias (Rio de Janeiro) é decorrência do pólo petroquímico. Cubatão, Vila Parisi, é implantação da Cosipa. As Cotas são implantação da Via Anchieta. Camassaí, na Bahia, é o pólo petroquímico. Heliópolis é a implantação da indústria automobilística de São Bernardo.  As grandes favelas ou foram acampamentos de obras ou são próximas a elas. Então há dois grandes problemas: um é a carência de mão de obra para as grandes obras, e aí se busca pessoal em outros lugares. Hoje, o domínio de qualificação é maior, não é mais permitido fazer acampamento, justamente porque ele vira favela. O outro é depois. Além disso, nós vamos enfrentar problemas iguais aos da África do Sul: greves. É natural, o sujeito vê que a construção está precisando, e se organiza para pedir mais salários. O consultor vai ao limite, e lá se entra em greve e paralisa a obra.

 E isso acontecerá no Brasil todo?

 Talvez nos grandes centros o problema seja menor, por causa dos acertos com as lideranças sindicais. Mas onde a liderança é mais difusa, não se controla.

 Qual seria a solução?

 Sempre a solução é o planejamento. Quando se planeja, não há grandes picos e vales, não precisa trazer tantos migrantes, pode-se usar mão de obra local, melhorar a condição de vida de quem já está lá. Quando se atrasa uma obra, há aqueles momentos onde se tem muita gente. A solução sempre é o planejamento, e é exatamente o mais difícil, e que já deveria ter sido feito. 

 Jorge Hori é consultor do Sinaenco e responsável pelos estudos preparatórios para a Copa do Mundo de 2014. Há mais de 40 anos Hori presta consultoria em administração a governos, empresas públicas e privadas e entidades do terceiro setor. Participou da organização inicial das empresas Emplasa (Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano AS), CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), Banco do Povo Paulista e outras, além da reorganização de entidades como DER-SP (Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo). Já foi dirigente de empresas do Grupo Camargo Corrêa.

 Fonte: www.piniweb.com.br

 

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